Brasil perde o rumo enquanto os EUA consolidam o seguro rural como pilar da política agrícola moderna
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Atualizado: há 17 minutos
A falta de prioridade ao seguro rural no Brasil expõe um paradoxo: a potência agrícola que ainda não aprendeu a proteger quem alimenta o país.
Por: Bruna Goulart
07.10.2025

O contraste entre duas políticas agrícolas
Em 2025, o Brasil enfrenta um paradoxo incômodo: enquanto o agronegócio segue como um dos pilares da economia nacional, o seguro rural, ferramenta essencial para a estabilidade do campo, permanece em segundo plano. O recente corte orçamentário no Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) reforça a falta de prioridade governamental para o tema e expõe uma fragilidade estrutural da política agrícola brasileira.
Nos Estados Unidos, a história é outra. Lá, o seguro agrícola é visto não apenas como uma salvaguarda financeira, mas como uma política de Estado, um instrumento de segurança nacional:
“O objetivo do seguro agrícola federal é promover o bem-estar nacional”, afirmou Thomas Zacharias, presidente da National Crop Insurance Services (NCIS), ao descrever o modelo norte-americano durante uma conferência internacional em Roterdã. Não se trata de retórica: é a tradução prática de uma parceria público-privada madura e funcional, construída ao longo de décadas e sustentada por legislação clara, compromisso político e investimento robusto."

Como funciona o modelo norte-americano
Nos Estados Unidos, o seguro agrícola é sustentado por uma sólida parceria público-privada, em que o governo federal e o setor privado compartilham responsabilidades e riscos. O sistema é regido por legislação específica, como a Lei Agrícola de 2014 e a Lei Agrícola de 2018 (atualização que reforçou ainda mais o programa, expandindo produtos, fortalecendo a pesquisa e ampliando a cobertura para novas culturas).
O resultado é um sistema sólido, que movimenta bilhões de dólares por ano e garante previsibilidade a produtores, seguradoras e ao próprio governo. É um modelo que alia regulação estatal forte com eficiência de execução privada, uma combinação que o Brasil insiste em ignorar,
O governo, por meio do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e da Agência de Gestão de Riscos (RMA), define as regras e supervisiona o programa. Já as seguradoras privadas, conhecidas como Approved Insurance Providers (AIPs), vendem e administram as apólices. O governo subsidia parte dos prêmios, o que torna o seguro acessível para os produtores e garante sustentabilidade econômica ao sistema.
A lógica é simples e eficiente: dividir riscos e responsabilidades, estimulando a profissionalização do setor e evitando o colapso de produtores em caso de desastres climáticos. Não por acaso, o seguro agrícola é descrito por agricultores norte-americanos como “a pedra angular da rede de segurança da política agrícola dos EUA”.
O cenário brasileiro: cortes e incertezas
Enquanto isso, o Brasil segue na contramão. O PSR, criado em 2003 com o objetivo de ampliar o acesso ao seguro rural por meio de subvenções ao prêmio, sofre sucessivos cortes orçamentários. O governo federal congelou R$ 445 milhões do orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) para 2025, o que representa cerca de 42% da dotação prevista de R$ 1,06 bilhão.
O resultado é uma equação perversa: o custo das apólices aumenta, a cobertura diminui e milhares de produtores ficam desprotegidos frente a eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e geadas. A consequência? Prejuízos bilionários, renegociações de dívidas e dependência crescente de crédito emergencial. Por fim, mais dependência do Tesouro Nacional. Em outras palavras: o país paga mais caro para não ter um sistema estruturado.
A ausência de previsibilidade e continuidade transforma o seguro rural brasileiro em uma política vulnerável, quando deveria ser uma ferramenta estratégica de gestão de riscos e segurança alimentar. Em vez de um sistema preventivo e eficiente, o país opera sob uma lógica reativa, em que o socorro chega tarde e custa caro.
Lições que o Brasil insiste em ignorar

O exemplo americano evidencia uma lição clara: o seguro agrícola não é gasto, mas investimento. Cada dólar aplicado em subvenção gera estabilidade econômica, previsibilidade fiscal e proteção para milhões de hectares de produção.
No Brasil, a falta de prioridade política e de visão estratégica compromete não apenas o produtor rural, mas toda a cadeia de abastecimento e o próprio equilíbrio macroeconômico. O agronegócio continua sendo o motor da economia, mas sem uma engrenagem que o proteja das intempéries, sejam climáticas ou políticas, esse motor corre o risco de travar.
O preço da miopia política
A pergunta que se impõe é direta e incômoda: por quanto tempo o país ainda suportará a falta de uma visão estratégica que os Estados Unidos consolidaram há décadas? Enquanto isso, do outro lado do hemisfério, os agricultores americanos colhem mais do que grãos, colhem tranquilidade. E essa, infelizmente, continua sendo uma safra rara no solo brasileiro.