Os impactos das mudanças climáticas sobre a agricultura brasileira são reais e estão se intensificando. O cultivo do milho em segunda safra deixa a cultura ainda mais vulnerável, uma vez que pode ser impactada negativamente pelo atraso do plantio da safra antecedente e pela antecipação do final do período chuvoso.
A segunda safra de milho no Brasil plantada no início de 2024 foi bastante impactada pela irregularidade das chuvas. Tanto o excesso de chuvas, em algumas áreas, ou a falta de água no solo, que levaram ao atraso e/ou ao replantio das lavouras, contribuíram para perdas na produtividade com agravamento em áreas de pastagens convertidas recentemente em áreas agrícolas.
A partir do segundo decêndio do mês de abril os fortes temporais já começaram a ocorrer no Rio Grande do Sul. O mês de maio foi marcado pela intensificação da estiagem nas regiões Sudeste e Centro-Oeste e a tragédia provocada pelas chuvas na Região Sul.
Já a colheita da safrinha no centro-sul do Brasil alcançou 21% da área cultivada até a última quinta-feira (13), apontando que o índice é o mais alto para esta época do ano desde 2013. O avanço atual foi de 11 pontos percentuais em relação aos 10% registrados na semana passada. Há um ano, o percentual para esta época era de 5%.
Chuvas no Brasil (decêndios) durante as fases de crescimento vegetativo, florescimento e maturação do milho no Brasil em 2024.
Os efeitos da distribuição irregular das chuvas e das ondas de calor ocorridas nos últimos anos têm levado os produtores a avaliar a substituição do milho por culturas mais tolerantes às adversidades climáticas com uma tendência de crescimento das áreas plantadas de algodão, girassol, trigo tropical e sorgo granífero.
De acordo com os levantamentos da CONAB, a Região Centro-Oeste, principal produtora de milho do Brasil, teve uma redução em cerca de um milhão de hectares na área atual cultivada com milho em relação à safra 2022/23.
A redução da área plantada e as perdas de produtividade, em função das adversidades climáticas, foram responsáveis pela perda de 14 milhões de toneladas na safra atual em relação à safra passada.
Tendo em vista que o cultivo do milho no Rio Grande do Sul ocorre basicamente na primeira safra, não devem ser esperadas grandes alterações nas atuais estimativas efetuadas pela CONAB e outras instituições. No momento, a grande preocupação deve estar voltada para o plantio da próxima safra de grãos (2024/25), uma vez que as principais regiões produtoras de grãos do Brasil estão passando por fortes impactos climatológicos.
No Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina, grandes extensões de áreas agrícolas foram afetadas pelas enchentes e vão demorar para entrar em plena capacidade produtiva. Na Região Sudeste e, principalmente no Centro-Oeste, as ondas de calor estão causando elevadas perdas da água disponível dos solos criando condições propícias para a ocorrência de queimadas e danos ao solo, como a mineralização abrupta da matéria orgânica e a redução da atividade microbiana, afetando as atividades metabólicas dos microrganismos.
Quanto maior a incidência de queimadas, ondas de calor e a demora no início do próximo período chuvoso, maiores os danos na qualidade dos solos, sustentáculo da produção vegetal. Os principais modelos globais de previsão de clima estão indicando que até o início da próxima safra o Brasil deverá ter chuvas abaixo da média e altas temperaturas, mesmo sob os efeitos do fenômeno La Niña.
Devemos lembrar que os modelos de previsão de longa duração estão mais suscetíveis a erros do que os modelos de previsão de tempo com prognoses para períodos máximos de 15 dias.
Recomenda-se que os produtores rurais fiquem de olho no clima e tenham a máxima atenção aos cuidados de preservação do solo, principal patrimônio físico da agricultura nacional, de fácil degradação e difícil recuperação, evitando a ocorrência das queimadas e cuidando para manter uma boa cobertura do solo para evitar os danos causados pela exposição solar.
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