Por: Bruna Goulart 24|08|2022

Se pararmos para pensar, um produto que transfere parte do risco dos agricultores para as seguradoras deveria ter uma demanda muito mais expressiva do que realmente tem. Ou seja, a venda de um seguro que estabiliza a renda nas atividades agropecuárias, que incentiva a aumento da produtividade no campo e minimiza o ônus dos governos, certamente deveria ter um impacto mais significativo.
Ao considerar um contexto mundial, a realidade é que essa modalidade de seguro ainda se encontra indisponível ou inacessível para muitos agricultores. Além disso, o mercado também é limitado por alguns desafios que afetam o seu desempenho.
De acordo com dados da SUSEP, os prêmios do seguro rural apresentaram um montante de R$ 9,6 Bilhões em 2021, o equivalente a cerca de 3% do total arrecadado pelo setor. Os seguros de pessoas, por exemplo, arrecadaram R$ 176,98 bilhões e os de automóveis R$38,43 bilhões no mesmo ano.
Contudo, esse valor do segmento rural representou um crescimento recorde de 40% em 2021, quando comparado ao ano anterior. Já no acumulado de até junho de 2022, o aumento da arrecadação foi de 38,7% , o que demonstra o potencial de crescimento desse setor. A "performance" do mercado geral de seguros neste primeiro semestre foi de R$ 168,80 bilhões, um crescimento de 16,4%.
Um ponto importante e diferenciado a ser destacado neste segmento, refere-se aos programas de subsídios governamentais presentes em alguns países, ao mesmo tempo que outros não contam com esse tipo de incentivo. Países como EUA, China e Índia, subvencionam uma parcela expressiva do prêmio (acima de 60%), e dentre outros fatores, os 'seguros agro' tendem a ter alta penetração.

O 'case' norte-americano, possui longos anos de experiência e uma infraestrutura consolidada nas questões operacionais e de distribuição, mas ainda assim, os produtos geralmente são altamente regulamentados com preços ou condições não tão flexíveis. Em outras palavras, 'tamanho único' para a maioria dos agricultores.
No Brasil, existe um setor privado ativo, com custos administrativos e operacionais consideráveis, nos quais os prêmios são 'enxergados' pelos produtores como "caros", limitando as contratações, favorecendo assim, o crescimento da participação do governo com o auxílio no pagamento do custo dessas apólices.

Enquanto isso, na África Subsaariana, apenas 3% das pequenas propriedades têm algum seguro agrícola e a maioria dos agricultores depende dos poucos subsídios disponibilizados pelos órgãos governamentais, o que levou a uma cobertura de risco inadequada e alcance limitado da população.
Já a Rússia, se compromete com quase 50% de subvenção ao prêmio, mas cobre menos de 1% da área cultivada no país. Na Argentina, por sua vez, programas de subsídios são inexistentes, onde o sistema é estritamente privado, todavia, possui algum êxito na cobertura, com cerca de 13% da área segurada. (Leia Aqui)
Apesar das grandes diferenças ao redor do mundo, o seguro agrícola tem um ponto comum fundamental: atender à demanda global por uma produção de alimentos mais eficiente ao ajudar os agricultores a estabilizar sua renda.
Além disso, é um incentivo para eles adquirirem sementes e equipamentos agrícolas de alta qualidade, maior respaldo para aquisição de crédito nas instituições financeiras e com isso atualizar as boas práticas de manejo e impactar positivamente a sociedade, contribuindo até para a renda dos fornecedores locais.
À medida que as mudanças climáticas se tornam um grande problema global que afeta a agricultura em todos os lugares, a necessidade de transferir os riscos dos agricultores mais suscetíveis e transferi-los para o mercado segurador é cada vez mais urgente.
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