Desafios do Seguro Agrícola diante das Mudanças Climáticas

Entenda os obstáculos e oportunidades no seguro agrícola em um mundo em transformação.

Imagem: Info Seguro Rural

No Brasil, os produtores rurais contam com seguros agrícolas subsidiados pelo governo federal e estadual (São Paulo e Paraná), instrumentos essenciais para garantir a estabilidade financeira diante de eventos climáticos adversos. Em situações como secas severas, chuvas excessivas ou outras ameaças climáticas, o seguro atua como um "amortecedor", reduzindo os impactos das perdas nas lavouras e oferecendo uma rede de proteção ao agricultor.

No entanto, com o agravamento das mudanças climáticas e a intensificação dos eventos extremos, o sistema de seguros enfrenta um novo desafio: manter sua eficácia diante de riscos cada vez mais frequentes e imprevisíveis. Sem reformas estruturais e avanços tecnológicos, há o risco de sobrecarga no programa, comprometendo sua sustentabilidade e a segurança do setor agrícola como um todo.

Aumento da Vulnerabilidade e Necessidade de Adaptação

Estudos indicam que, com o aumento contínuo das temperaturas globais, os produtores rurais em todo o mundo deverão enfrentar uma maior frequência de safras com baixa produtividade. Além disso, as perdas associadas a esses períodos tendem a ser mais severas, elevando o risco econômico da atividade agrícola.

Esse cenário evidencia a crescente vulnerabilidade do campo às mudanças climáticas e reforça a urgência de adaptar os modelos atuais de seguro rural, ajustando-os a uma nova realidade de risco:

Projeções apontam que, até 2050, a redução da produtividade das principais culturas poderá provocar um aumento significativo no número de sinistros e indenizações — com possibilidade de duplicação dos níveis atuais.

Esse panorama coloca em dúvida a resiliência financeira não apenas dos produtores, que sofreriam perdas mais frequentes e severas, mas também das seguradoras e do próprio governo, responsável pelo subsídio de parte das apólices. A continuidade do modelo atual, diante do agravamento dos riscos climáticos, exigirá ajustes estruturais e mecanismos mais robustos de gestão de risco e sustentabilidade financeira.

Impacto Financeiro das Mudanças Climáticas sobre o Seguro Agrícola

Imagem: Info Seguro Rural

Para ilustrar o impacto financeiro das mudanças climáticas sobre o seguro agrícola, basta observar o cenário dos Estados Unidos. Entre 1991 e 2017, as indenizações pagas pelo programa federal de seguro agrícola aumentaram em US$ 27 bilhões, segundo estudo da Universidade de Stanford. Além disso, um relatório publicado em 2023 pelo Environmental Working Group revelou que, nesse mesmo país, os custos do seguro agrícola federal cresceram mais de 500% em um período de aproximadamente vinte anos, encerrado em 2022.

Esses dados evidenciam a crescente pressão econômica sobre os sistemas de seguro rural em escala global, impulsionada pela intensificação dos eventos climáticos extremos.

No Brasil, o cenário também é preocupante. As indenizações pagas pelas seguradoras no segmento de seguro rural totalizaram R$ 40 bilhões na última década, demonstrando o aumento da exposição ao risco no campo. Somente em 2024, foram desembolsados R$ 4,2 bilhões, conforme dados da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras) — um crescimento de aproximadamente 150% em relação a 2015.

Em contrapartida, o orçamento federal destinado ao Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) permanece limitado. Com recursos em torno de R$ 1 bilhão por ano, o programa tem alcance restrito e não consegue atender à crescente demanda. Estimativas apontam que seria necessário, no mínimo, dobrar esse valor para garantir uma cobertura compatível com as necessidades do setor agrícola diante da intensificação dos riscos climáticos.

Conclusão: O Futuro da Proteção Rural em um Clima em Transformação

Os seguros agrícolas desempenham um papel fundamental na proteção dos produtores contra as adversidades climáticas, promovendo estabilidade financeira e contribuindo para a sustentabilidade do setor. No entanto, diante do aumento da frequência e da severidade dos eventos extremos causados pelas mudanças climáticas, o modelo atual enfrenta desafios consideráveis que ameaçam sua eficácia no longo prazo.

Para garantir a continuidade e a efetividade dessa proteção, é essencial que o sistema evolua. Isso envolve ampliar o orçamento federal destinado à subvenção, investir em tecnologias inovadoras de monitoramento e previsão de risco, e estruturar mecanismos mais resilientes de gestão. Assim, será possível fortalecer o campo brasileiro e promover um desenvolvimento agrícola mais seguro e sustentável em um cenário climático cada vez mais incerto.